sábado, 27 de dezembro de 2008

silence is sexy


Eu fazia desenhos imaginários nas costas de suas mãos, num café. Nada sobre ela sabia, nem sobre onde estávamos. Lembrava vagamente o Café de Flore, no Boulevard Saint Germain, sua fachada arredondada e orbicular. Mas não era o Café de Flore, não era Paris; digo, talvez fosse. Como bem poderia ser Roma, Veneza, Budapeste, Praga, Madrid, Buenos Aires, Rio de Janeiro... ou Estrasburgo. O letreiro apenas dizia Le Café.
Na mesa, um capuccino e uma cerveja. Eu tomava cerveja. E, em silêncio, com a ponta dos dedos, desenhava em suas mãos. Jovens tocavam displicentemente violinos e violoncelos, ora ensaiando um quarteto de cordas ilustre e exangue, que me pareceu ser Haydn.
Apenas observávamos, com a serenidade que uma brisa de sábado à tarde trazia, deslizando na pele de nossas faces.
Nossa comunicação era através de um guardanapo, no qual desenhávamos desenhos bobos, eu desenhei uma casa ao lado de um ponto de interrogação; ela me desenhou um mapa que não entendi.
Em determinado momento, quis falar-lhe. Não sabia em qual idioma. "est-ce que vous êtes Sylvie ?"; ela me olhou e riu, "non", e disse seu nome, em português. Ao fundo, ouvia-se o tilintar de copos.
E aquele barulho delicado, vez em quando, dos sinos-buzinas das bicicletas, pedindo licença aos transeuntes.

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