quarta-feira, 25 de março de 2009

domingo, 22 de março de 2009

sábado, 14 de março de 2009

para onde quer que a gente vá, encontrará facas para atirar em mim

Tudo que se precisa é uma garota numa ponte com grandes olhos tristes.

As que esperam, como Adèle, que se lhes aconteça algo. Como uma tela esperando, impassível sobre um cavalete, qualquer sorte de dínamo criador de ligações geométricas, espectrais, sólidas, com cores, muitas, de preferência. Um Miró, um Chagall.
Qualquer coisa arremessável, ainda que.
É que desde o começo o corpo se propôs a um jogo, só, sur le pont. Um jogo, também e sobretudo, de sorte.
Achei o filme uma delícia, a fotografia bem escolhida, a trilha sonora, roteiro; mas, principalmente, as intensidades manejadas pelo Leconte ao redor dessas metáforas que tratam, em última análise, de relacionamentos, de amor. A mecânica obscura do acaso, perpassando tudo, é algo que sempre me atraiu, em qualquer forma de arte.



Talvez uma tela desesperada não espere tanto por algo que já exista, o que existe às vezes satura: quer algo novo, novas potências, novos arranjos do desejo.


Na roda da morte, o seu corpo é o limite dos meus arremessos, o meu tempo, o meu ritmo, a minha circunscrição.
Gostei muito do personagem do Auteuil, da forma como ele se coloca, regalando com meticulosidade também desesperada um corpo exposto, vulnerável, e buscando, aos poucos, uma outra espécie, própria, de exposição e vulnerabilidade...
À primeira vista, atirar-esperar, duas condutas opostas, que se excluem. Nem sempre, todavia.
Please, don't stand too close to me, can you hear my heart?

Ao final, o lançar facas não passa de um lançar a si mesmo.




http://www.youtube.com/watch?v=WxCSQY4zskg

quarta-feira, 11 de março de 2009

terça-feira, 10 de março de 2009

domingo, 8 de março de 2009

p.s. para não me esquecer


O diálogo final de La Notte é uma das coisas mais bonitas que vi em cinema, poético como bem sabe fazer Antonioni, poeta das imagens, das cores, das palavras. A lettera scritta sopra un viso do Caetano... O cinema de Antonioni sempre me interessou, desde o primeiro contato que tive. A vagueza como espaço, vazio, amplo, atmosférico, esperando, apenas esperando. O farfalhar das árvores ao vento, as paisagens sonoras. Quando reli o diálogo, tive uma vontade imensa de nunca esquecê-lo.

Para não me esquecer:

Hoje, quando acordei, você ainda dormia. Aos poucos, acordando, senti sua respiração leve. E através dos cabelos que escondiam seu rosto, vi seus olhos fechados e senti uma comoção subindo à garganta. Tive vontade de gritar e acordá-la, pois o seu cansaço era profundo e mortal. Na penumbra, a pele dos seus braços e pescoço estava viva e eu a sentia morna e seca.
Queria os lábios nela, mas o pensamento de perturbar seu sono e de ainda tê-la em meus braços me impedia. Preferia tê-la assim, como algo que ninguém tiraria de mim, pois só eu a possuía. Uma imagem sua para sempre.
Além do seu rosto, via algo mais puro e mais profundo onde eu me refletia. Eu via você numa dimensão que englobava todo o tempo da minha vida.
Todos os anos futuros e os que vivi antes de conhecê-la, mas já pronto para encontrá-la. Este era o pequeno milagre de um despertar. Sentir pela primeira vez que você me pertencia, não só naquele momento, e que a noite era eterna ao seu lado.
No calor de seu sangue, de seus pensamentos, da sua vontade, que se confundia com a minha. Por um momento, entendi o quanto a amava, Lídia, e foi uma sensação tão intensa que meus olhos se encheram de lágrimas.
Eu pensava que isso jamais deveria terminar. Que toda nossa vida deveria ser como esse despertar. Senti-la não minha... mas como uma parte de mim. Uma coisa que respira comigo e que nada pode destruir, a não ser a indiferença de um hábito, que considero a única ameaça. Então, você acordou e, sorrindo, ainda adormecida, me beijou e eu senti que não havia nada a temer. Que seríamos sempre como naquele momento, unidos por algo que é mais forte que o tempo e o hábito.

Retirado de http://rockcaustico.blogspot.com/2008/01/la-notte.html

quarta-feira, 4 de março de 2009

terça-feira, 3 de março de 2009

domingo, 1 de março de 2009