terça-feira, 29 de junho de 2010

arpoador


Arpou a dor.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

morte e petite mort


Acordei com a notícia da morte do Saramago. Só li um livro dele, Ensaio Sobre a Cegueira, mas sinto como se conhecesse toda a sua obra. É um estranho sentimento de proximidade, empatia.
Há pouco passou na TV uma entrevista em que ele dizia não temer a morte, um tema recorrente em seus livros. Falou sobre a nossa dificuldade em falar sobre a morte, esquecemos dela e só lembramos que vamos morrer na velhice.
A cidade raramente nos estimula a pensar sobre a morte. Outdoors com pessoas simétricas de dentes brancos e olhos azuis oferecendo os mais variados produtos e ideais de felicidade expressam a estética dos corpos e a imposição de um desejo feliz.
Antes tudo isso fosse trocado por uma simples frase, em caixa alta, fonte de cor branca, fundo preto: você vai morrer.
Colocar a morte no centro da reflexão sobre a vida não é desejar a morte, ninguém (salvo raras exceções) ensaia para morrer. Acho que é uma forma de analisar o que estamos fazendo de nós mesmos. Saber morrer é ser fiel aos próprios desejos. Saber viver é atestar, com regozijo, tal fidelidade.
Ao mesmo tempo, pensar na morte é um mecanismo de desapego. Dos objetos que valorizamos, dos nossos hábitos, do nosso status e do nosso corpo.
Pensar na morte como um dos eventos mais importantes de nossas vidas é uma tentativa de encontro com nós mesmos (nós enquanto desejo) no infinito.