sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

sobre o pertencimento



Este post é uma homenagem a um filme.
A partir de uma fase da minha vida comecei a não imaginar a minha vida sem ela, pensei se isso era bom ou não, mas, no final, vi que era bom - é o amor, é o amor... Et vous? Comment allez-vous? Amitiés... Depois de ver Son Nom de Venise Dans Calcutta Désert, e enquanto estava vendo, senti Marguerite dizendo-me... Concretude dura e indiferente, essa indiferença é o mapa da Índia... A certeza que é pré-discursiva, que é uma música, que é o olhar ele mesmo... Outro dia eu falava pra Viveca que Truffaut não me tocava tanto quanto, sei lá, Antonioni, mas Truffaut tem algo de nostálgico que não sei bem explicar... Morrer, dormir, talvez sonhar, para mim sonhar, dormir, talvez morrer. E a felicidade pode até ser uma idéia velha.

Fui vendo minhas anotações aleatoriamente antes de chegar no que seria esse post.
O fato é que as pessoas dão o sentido que querem às suas vidas, algumas não dão nenhum, ou sequer pensam nisso. Afinal, não tem sentido, constrói-se um.
Daí acho que surgem as tais experiências, a influência das formas narrativas na subjetividade. Se a subjetividade é fabricada, sei lá, posso pensar numa miríade de formas narrativas operando na construção das subjetividades contemporâneas. O modus operandi do marketing televisivo, por exemplo, expondo crianças a inúmeros comerciais por dia, insidiosas seduções por minuto, por segundo.Vitrines, vitrines.
Deixando o papo chato de lado, não dá pra reduzir tudo a isso, é claro.
Este post é uma homenagem a um filme.
Talvez porque hoje seja difícil pertencer a alguma coisa, ou a alguém. E é cada vez mais difícil o fomento dessa idéia.
Sei que ninguém pertence a ninguém. Mas, mesmo assim, sempre pensava em onde-está-a-pessoa-a-quem-pertenço. Essa pessoa que me é e eu a sou, como na frase da Clarice, tu és uma forma de ser eu, e eu uma forma de te ser.
Pra mim, a vida não tem muito sentido se isso não acontecer, e, se não acontecesse, seria feliz por ter esperado.
O cinema e um punhado de escritores difusos, talvez seja daí que extraio alguma narrativa. Quando vi A Dupla Vida de Véronique pensei ter encontrado algo que me dissesse o que eu procurava.
Irène Jacob tocando uma árvore. Um plano simples, mas profundo.
















segunda-feira, 24 de agosto de 2009

segunda-feira, 10 de agosto de 2009


Como se o tempo quedasse retorcido, irrelevante, menor.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

terça-feira, 28 de julho de 2009

terça-feira, 21 de julho de 2009

terça-feira, 14 de julho de 2009

me faz chorar e é feito pra rir


A obliteração criativa dos últimos meses impede que eu atualize o blog amiúde.
Não que eu tenha sido, alguma vez sequer, criativo, mas a vontade de escrever também não vem. Bom, a maioria dos posts são da época das férias, ou pelo menos quando não havia nada pra se fazer, nenhuma obrigação.
Agora que novamente estou de férias, acho que dá pra escrever quelque chose.
Não só a vontade de escrever se foi nesses tempos, mas também a abertura a qualquer impulso criador alheio, às intensidades que perpassam as obras...
Eu estava falando com alguém esses dias sobre a minha tiuria: quando fico períodos afundado nos estudos da faculdade, passo a ter uma predisposição, uma tendência a ressuscitar o modus operandi acomodado do meu olhar, da minha mente, ou o que quer que seja. "Se é isso, então tem que ser isso", o jeitinho deôntico de se pensar numa faculdade de direito, ah. Basicamente aniquila toda a arte, toda a contemplação. A obra simplesmente é.
Acho que o segredo é exercício, não "disciplina do olhar", mas "indisciplina" do que está pavimentado no pré-olhar, na poeira que se acumula, nos sedimentos.
É preciso olhar as coisas, as pessoas, o que elas fazem, pensam e produzem com a mesma paixão senil que nada pede em troca. E a curiosidade infantil que nada de fato compreende. Sentir, apenas. É preciso.

http://www.youtube.com/watch?v=CV8_WJNzCh8

sexta-feira, 19 de junho de 2009

segunda-feira, 15 de junho de 2009

domingo, 10 de maio de 2009

sexta-feira, 8 de maio de 2009

love me tender, love me sweet, never let me go


I'll be yours through all the years
'Till the end of time...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

quando lhe achei, me perdi


quando vi você, me apaixonei...

quinta-feira, 30 de abril de 2009

sábado, 25 de abril de 2009

son nom de venise dans calcutta désert


E o calor era mais uma vez o calor de Calcutá.
O passeio lento do olhar, a profusão de vozes úberes.
O tempo devora, e o espaço continua sedimentado, basáltico, em concretude dura, indiferente. Essa indiferença é o mapa da Índia, são todos os mapas sobre os quais somos, caminhamos, dizemos, sentimos.
Cartografia bruta e deserta do desejo, dos corpos ausentes, macroscopicamente diluídos.
Foram.
A certeza, derradeira certeza do que sobra de desejos silentes, vontades frementes, de procuras desesperadas, é a imagem do tempo, do espaço esquecido, empoeirado, as paredes carcomidas, rotas, os rostos apagados, os ecos, as cidades desfazendo-se, refazendo-se, e seus nomes num papel.

: a imortalidade não passa por ali, ela pára e contorna.

quarta-feira, 25 de março de 2009

domingo, 22 de março de 2009

sábado, 14 de março de 2009

para onde quer que a gente vá, encontrará facas para atirar em mim

Tudo que se precisa é uma garota numa ponte com grandes olhos tristes.

As que esperam, como Adèle, que se lhes aconteça algo. Como uma tela esperando, impassível sobre um cavalete, qualquer sorte de dínamo criador de ligações geométricas, espectrais, sólidas, com cores, muitas, de preferência. Um Miró, um Chagall.
Qualquer coisa arremessável, ainda que.
É que desde o começo o corpo se propôs a um jogo, só, sur le pont. Um jogo, também e sobretudo, de sorte.
Achei o filme uma delícia, a fotografia bem escolhida, a trilha sonora, roteiro; mas, principalmente, as intensidades manejadas pelo Leconte ao redor dessas metáforas que tratam, em última análise, de relacionamentos, de amor. A mecânica obscura do acaso, perpassando tudo, é algo que sempre me atraiu, em qualquer forma de arte.



Talvez uma tela desesperada não espere tanto por algo que já exista, o que existe às vezes satura: quer algo novo, novas potências, novos arranjos do desejo.


Na roda da morte, o seu corpo é o limite dos meus arremessos, o meu tempo, o meu ritmo, a minha circunscrição.
Gostei muito do personagem do Auteuil, da forma como ele se coloca, regalando com meticulosidade também desesperada um corpo exposto, vulnerável, e buscando, aos poucos, uma outra espécie, própria, de exposição e vulnerabilidade...
À primeira vista, atirar-esperar, duas condutas opostas, que se excluem. Nem sempre, todavia.
Please, don't stand too close to me, can you hear my heart?

Ao final, o lançar facas não passa de um lançar a si mesmo.




http://www.youtube.com/watch?v=WxCSQY4zskg

quarta-feira, 11 de março de 2009

terça-feira, 10 de março de 2009

domingo, 8 de março de 2009

p.s. para não me esquecer


O diálogo final de La Notte é uma das coisas mais bonitas que vi em cinema, poético como bem sabe fazer Antonioni, poeta das imagens, das cores, das palavras. A lettera scritta sopra un viso do Caetano... O cinema de Antonioni sempre me interessou, desde o primeiro contato que tive. A vagueza como espaço, vazio, amplo, atmosférico, esperando, apenas esperando. O farfalhar das árvores ao vento, as paisagens sonoras. Quando reli o diálogo, tive uma vontade imensa de nunca esquecê-lo.

Para não me esquecer:

Hoje, quando acordei, você ainda dormia. Aos poucos, acordando, senti sua respiração leve. E através dos cabelos que escondiam seu rosto, vi seus olhos fechados e senti uma comoção subindo à garganta. Tive vontade de gritar e acordá-la, pois o seu cansaço era profundo e mortal. Na penumbra, a pele dos seus braços e pescoço estava viva e eu a sentia morna e seca.
Queria os lábios nela, mas o pensamento de perturbar seu sono e de ainda tê-la em meus braços me impedia. Preferia tê-la assim, como algo que ninguém tiraria de mim, pois só eu a possuía. Uma imagem sua para sempre.
Além do seu rosto, via algo mais puro e mais profundo onde eu me refletia. Eu via você numa dimensão que englobava todo o tempo da minha vida.
Todos os anos futuros e os que vivi antes de conhecê-la, mas já pronto para encontrá-la. Este era o pequeno milagre de um despertar. Sentir pela primeira vez que você me pertencia, não só naquele momento, e que a noite era eterna ao seu lado.
No calor de seu sangue, de seus pensamentos, da sua vontade, que se confundia com a minha. Por um momento, entendi o quanto a amava, Lídia, e foi uma sensação tão intensa que meus olhos se encheram de lágrimas.
Eu pensava que isso jamais deveria terminar. Que toda nossa vida deveria ser como esse despertar. Senti-la não minha... mas como uma parte de mim. Uma coisa que respira comigo e que nada pode destruir, a não ser a indiferença de um hábito, que considero a única ameaça. Então, você acordou e, sorrindo, ainda adormecida, me beijou e eu senti que não havia nada a temer. Que seríamos sempre como naquele momento, unidos por algo que é mais forte que o tempo e o hábito.

Retirado de http://rockcaustico.blogspot.com/2008/01/la-notte.html

quarta-feira, 4 de março de 2009

terça-feira, 3 de março de 2009

domingo, 1 de março de 2009

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

ando tão à flor da pele


Que meu desejo se confunde com a vontade de não ser
Ando tão à flor da pele

Que a minha pele tem o fogo do juízo final

E aí fui ver The Reader. Me emocionei um bocado, mas me contive, o cinema estava lotado. Kate, quiçá pela primeira vez, me tocou.
Gostei da feminilidade lanceolada dela, e a densidade que a envolvia, com suas expressões profundas, contundentes, contidas. Uma mulher interessante.


Nem Renoir


Nem Fragonard


Ontem fiquei com Kate, sem ler uma única linha, (im)penetrável, sólida, sorvendo com rispidez Homero e Chekhov.


Às vezes me preservo
Noutras, suicido
: http://www.youtube.com/watch?v=5-TzJGnBuKQ&

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009



Nada temos a temer.
Exceto as palavras.



segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

tartamudeando no deserto


Começar, com sofreguidão. A parte mais difícil. Ou mais fácil, alguém diz. Do alto do meu forte no deserto, de onde perscruto as silhuetas, as reverberações. Mas meu sonar é frágil e meus olhos imprecisos.
Quando assoma-se um ponto sombreando o solo árido, despejo-lhe minha artilharia, que é louca pra ver, pra sentir. Pra não ser mais, no limiar da explosão. E explodir em sua extensão, sulcando-lhe o corpo com a generosidade de um impacto cego. Não, ela não é belicosa, pelo contrário, mas tão intensa quanto.
No fundo é isso, eu acho:
Sofro do meu vício de acreditar. Acreditar chorando.

Some fellow officers are eagerly awaiting an attack; some no longer want to believe in it; others take advantage of the vague threat to further their career. All of them are sacrificing everything -- health, youth, friends, family -- for a distant military ideal: leading the defence against the onslaught of the enemy. But in the vast emptiness surrounding the fortress, nobody has ever sighted the Tartars...

domingo, 15 de fevereiro de 2009

la casualidad que estábamos esperando



pra que rimar amor e dor


Fui procurar alguma coisa relevante que tenha ocorrido hoje mas não achei nada. Contentei-me com a afirmação despida de fundamentos de que hoje foi o dia em que Sócrates foi condenado à morte por cicuta. Nem é possível saber se Sócrates de fato existiu, porque nada deixou escrito. Enfim, alguém acreditou na morte de Sócrates e pintou La Mort de Socrate. E eu também vou fazer de conta.
Fui olhar meu caderno da época em que estudava Filosofia, minhas anotações e tal. Agora nem lembro se eram originais ou fichamentos. Só sei que foram pra estudar pra única prova que fiz lá, sobre tragédia ¬¬.

- Antes da tragédia, segundo Nietzsche, havia a era do estático, traduzida pela arte das formas da escultura, que representava a visão apolínea do mundo. O elemento dionisíaco era encontrado nas farândolas dos festivais, na bebida e, sobretudo, na música. A combinação de todos esses elementos em uma só forma de arte deu origem à tragédia.
- Apolo e Dioniso representam antíteses estilísticas que caminhavam juntas, quase sempre lutando entre si, mas que se fundem, formando a obra de arte da tragédia ática. O elemento dionisíaco era encontrado na música, enquanto o apolíneo era encontrado nos diálogos que davam concretude simbólica e recortavam a exultação dionisíaca. Não só as imagens agradáveis e belas são vistas, senão as sérias, tristes, obscuras e tenebrosas.
- O herói da tragédia não luta contra o destino, mas apresenta-se ao destino em sua desgraça, ante o mundo de espanto que acaba de conhecer.
- A dialética, ao contrário, é otimista: crê em relações de causa e efeito e, portanto, em relações necessárias de culpa e castigo, virtude e felicidade. O herói é capaz de defender suas ações com argumentos e contra-argumentos. Aí está presente a idéia socrática de que "o virtuoso é o feliz". [/grandes-merdas-ser-adevogado]
- Goethe: "Todo o trágico se baseia numa contradição irreconciliável. Tão logo aparece ou se torna possível uma acomodação, desaparece o trágico".

Lembrei das agruras de Aquiles em sua contradição entre lutar e morrer jovem ou envelhecer e ter vida longa. Amar e sofrer. Amar ou sofrer. Juliette Binoche no final de Bleu.

Botei na balança e você não pesou

[http://www.youtube.com/watch?v=0x2mpUQTCqw]

sábado, 14 de fevereiro de 2009

a flor


1) Você é homem ou mulher?
Pierrot.

2) Descreva-se:

Tropeça a cada quarteirão
Não mede a força que já tem
Exibe à frente o coração
Que não divide com ninguém
Tem tudo sempre às suas mãos
Mas leva a cruz um pouco além
Talhando feito um artesão
A imagem de um rapaz de bem


3) O que as pessoas acham de você?
Não, ele não vai mais dobrar
Pode até se acostumar
Ele vai viver sozinho
Desaprendeu a dividir

4) Como descreveria seu último relacionamento amoroso?
Quem sabe.

5) Descreva sua atual relação com namorado ou pretendente:
Eu encontrei-a quando não quis
mais procurar o meu amor
E quanto levou foi pr'eu merecer
antes um mês e eu já não sei


6) Onde queria estar agora?
Paquetá.

7) O que pensa sobre o amor?
Ah vai!
Me diz o que é o sufoco que eu te mostro alguém
afim de te acompanhar
E se o caso for de ir à praia eu levo essa casa numa sacola


8) Como é a sua vida?
Não há ninguém capaz
De ser isso que você quer
Vencer a luta vã
E ser o campeão
Pois se é no "não" que se descobre de verdade
O que te sobra além das coisas casuais
Me diz se assim está em paz?


9) O que pediria se pudesse ter apenas um desejo?
Feito pra mim, bom pra você. Deixa mudar e confundir!

10) Escreva uma frase sábia:
É de lágrima que faço o mar pra navegar

11) Se despeça:
Adeus você
Eu hoje vou pro lado de lá
Eu tô levando tudo de mim
Que é pra não ter razão pra chorar

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

abismo



Corpo pode ser abismo?
Hoje fui ao shopping, templo asséptico e alabastrino do desejo, comprar um tênis razoável para correr. Já vou entrando de verdade na casa dos vinte, né, daqui a pouco é trinta, preciso começar a cuidar do corpitcho. E correr é uma boa opção para quem se sente desconfortável em academias.
Entrei na primeira loja que vi, que exibia uma faixa vermelha imensa escrito "liquidação". O sujeito que veio me atender tinha um vezo que me irrita bastante, o seja-bem-vindo-brother-qualseunome.
"Oi. Quero um tênis bom de corrida com preço entre 100 e 150 reais."
"O tênis é pra você? Qual o seu nome?"
"É. Pedro."
"Prazer, me chamo Alex! Ih, Pode ser um pouquinho acima disso, cara?"
"Sim, até 160." Sorri sem mostrar os dentes e arqueei as sobrancelhas, minha cara de simpatia impessoal.
"249?"
"Não."
"Ok, vou ali na outra loja pegar um Mizuno muito bom de 149, fica aí à vontade olhando os modelos."
"Ok."
"Qual o seu nome mesmo?"
"Pedro."
Trinta segundos depois ele volta:
"Pedro? Qual o tamanho?"
"41."
Esperei uns 10 minutos e nada. A outra loja ficava a uns metros dali, no primeiro piso. Eu estava no segundo. Pensei que ele realmente estivesse se esforçando para procurar o tênis, mas resolvi simplesmente ir embora.
Antes de continuar procurando em outras lojas, fiquei com vontade de tomar um chá mate gelado. Sempre sento numa mesa defronte ao Rei do Mate e tomo um mate gelado com limão ou leite. Pela primeira vez pedi um com maracujá.
Depois fui andando até a livraria pescoçar livros e dvds. Já gastei deveras fazendo isso.
Foi aí que tive uma pequena epifania: o som ambiente tocava Sentimental, do Los Hermanos, enquanto eu folheava o Livro das Perguntas, do Neruda. Eu não lembrava de música ambiente ali. Por alguma razão, fiquei prestando atenção na letra e cantando junto mentalmente enquanto lia as perguntas.
De tanto eu te falar, você subverteu o que era um sentimento e assim
Fez dele razão
Pra se perder no abismo que é pensar e sentir...
Ao mesmo tempo em que era grafado no meu pensamento: Para quién arden los pistilos del sol en sombra del eclipse?
Aí percebi que até aquele momento do dia eu não tinha falado com ninguém realmente, assim, só com a vendedora do mate e com Alex. Acabei comprando o livro, né, que nem tava caro, pocket book.
Saí dali e fui caminhando lívido sobre o abismo, cheio de perguntas.

p.s.: No caminho, pensei que a trilha sonora perfeita para andar em shopping é Michelangelo Antonioni, do Caetano. [http://www.youtube.com/watch?v=T6TpPx8J-Y8]





quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

touché


Fico pensando se não é por essa barreira por trás do rosto que eu escrevo agora, o rosto e o infinito, o rosto e o inefável, o rosto e o murmúrio, o rosto e a música.
O que de você eu não posso tocar e posso amar sem ver? Até o limite, quando o ver não importar mais e a única visão produzida seja a visão tátil de um cego.
Toi qui me parles d'elle, de son corps effacé... Intensidades de vozes de hors-là, que esvoaçam pelos planos e murmuram junto com a música, vozes que são o tempo ele mesmo.
E a barreira entre o rosto e o detrás se desfaz. Não tão completamente, no caso do Lonsdale, com sua "densidade de bruma", personagem que talvez tenha me chamado mais atenção. Para explicá-lo com a intensidade de India Song, não vejo outro meio senão ser voz, senão amar.

Para justificar em termos gerais o seu desejo pela escrita, ele procurava inverter a explicação feita certa vez por García Márquez, ao dizer que escrevia para que o amassem. Porque exatamente ao contrário, para ele, a escrita, e tudo aquilo que possa ser considerado arte, era entregar-se em uma via de mão única. Escrevia para simplesmente amar, com tudo que pudesse advir daí.
E ele sabe, como sabia, que o amor incondicional é uma exposição vã. Situação em que não há e não pode haver en garde.
Há coisas que o sustentam, vivas e mortas em seus significados pulsantes. Há coisas que o farão continuar sem defesas, uma vez após outra, com corpo e cicatriz, com corpo de cicatriz, fortalecido após o último e antes do próximo touché.