sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

encontros, pedrinhas no lago


De vez em quando penso nisso: o quanto sou das pessoas e das coisas que encontrei nessa vida. De gente que encontrei e também que nem vi pessoalmente: Clarice, Neruda, Bartleby, aquele mordomo d'O Silêncio, a voz gostosa da Delphine Seyrig, Drummond, Ítalo Calvino... Juliette Binoche, as cores de um quadro bonito, O Pequeno Príncipe. Seria ingenuidade, ou desonestidade, ou uma modéstia bem falsa, não reconhecê-los em mim, e não o contrário; não reconhecer em mim quem de alguma forma me fez vibrar, crispar a alma (piegas, mas não encontrei uma expressão melhor). E aí vem aquele pensamento "então é isso!", e uma felicidade solitária. Um gesto, uma expressão, uma frase, um sorriso, um olhar, uma meiguice qualquer, é isso então. E afeta. Uma comunicação muda, etérea, sincera. E sincera pois sem aspirações, sem força argumentativa, porém loquaz. Sutilmente loquaz.
Gosto da imagem de pedrinhas sendo atiradas no lago pra visualizar esses encontros. É mais ou menos assim: duas pedrinhas atiradas uma ao lado da outra com a mesma força possuem a mesma freqüência, vibram igualmente, produzem ondas em intervalos similares. Ondas essas que tendem a se encontrar em determinados pontos, formando uma só onda maior, somada e ampliada, amplitude.
Assim me sinto ao encontrar alguém que me afete. Nossa freqüência, que muito provavelmente tenha favorecido o encontro, converge e nos amplia de algum modo. Freqüência-amplitude, minha experiência e nossa onda.
Nunca gostei muito de física, mas esse exemplo me agrada sempre, porque é o que consigo utilizar pra explicar esses pequenos fenômenos chamados você, que agem sobre mim me modificando, me subtraindo e me ampliando, uma sanfona, uma sinfonia. Não, você.

2 comentários:

Madame Natasha disse...

Pra você ver, duas pedrinhas atiradas uma ao lado da outra com a mesma força e antes de terminar a frase já pensei na que ficou no meio do caminho.

p. disse...

é que nas aulas de física eram sempre duas. mas podem ser três, quatro, dez...
na prática são várias, e muitas vezes elas nem sabem disso, essas pedrinhas.