terça-feira, 16 de dezembro de 2008

make them blue and it's enough


"Quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém", diz Vinicius de Moraes quando ouço Berimbau/Consolação. Ouso discordar. Pois quem sai também amiúde morre sem amar ninguém - acho até mais comum do que aquele que ama entrincheirado, algo tão mais fácil e simples, e que, sim, tentamos.
Amar o que dança ao som de melodias inauditas é duro porque é um perder-se, pelo menos no princípio, e isso ninguém quer.
Ninguém quer perder-se. E perder a graça já codificada. Já coisificada. Mas eu não quero absolutamente acreditar nisso. Apenas constato. E ninguém sabe como é sofrível. Minto, alguns sabem.
"Não sou pessimista, o mundo que é péssimo", disse outro sábio - e assino embaixo. É que agora não quero tecer nada bonito, doce. Deixar a dor correr.
Estamos começando a regência da lua minguante, talvez seja isso. A cada dia percebo como o calendário lunar é mais importante do que o solar. Não que a fase minguante não tenha a sua beleza, mas apenas me sinto desmotivado a sair por aí aspergindo qualquer coisa. O calendário solar é antes de tudo estéril, apesar de a gente basear nossa produção nele. Quelle ironie.
Agora ouço uma sonata. Quando penso em lua, penso em sonatas; talvez por causa da Sonata ao Luar de Beethoven. E continua sendo uma palavra doce de se dizer, sonata, doçura-opalescente-da-lua. E a sonata D. 959 do Schubert é tão bonita. Sobretudo o segundo movimento, belíssimo. Andantino. Silhueta triste lépida lânguida apreensiva compreensiva mordaz morta -.
Penso em Van Gogh e suas luas loucas e amarelos estrepitosos, que tanto saiu de dentro de si e morreu sem amar ninguém, la tristesse durera toujours. Sem ser amado por ninguém, sem para quê.
Somente a verdade tórrida de um sol das duas da tarde.


http://www.youtube.com/watch?v=OfU3OVG2Ku0


2 comentários:

Madame Natasha disse...

Não é Schubert, pero me gusta: http://www.youtube.com/watch?v=GUnbkSaVsV0

Bruna O. disse...

Nunca levei Vinícius e suas frases sobre a falta de amor a sério. Esse papo de "mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão" sempre me pareceu furada. Se bem que sei lá eu sobre o amor. O mais próximo de um amor que não compensa que tenho é minha relação com a minha solidão, que aprendi a gostar. Ou me acostumei, nada mais.