quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

touché


Fico pensando se não é por essa barreira por trás do rosto que eu escrevo agora, o rosto e o infinito, o rosto e o inefável, o rosto e o murmúrio, o rosto e a música.
O que de você eu não posso tocar e posso amar sem ver? Até o limite, quando o ver não importar mais e a única visão produzida seja a visão tátil de um cego.
Toi qui me parles d'elle, de son corps effacé... Intensidades de vozes de hors-là, que esvoaçam pelos planos e murmuram junto com a música, vozes que são o tempo ele mesmo.
E a barreira entre o rosto e o detrás se desfaz. Não tão completamente, no caso do Lonsdale, com sua "densidade de bruma", personagem que talvez tenha me chamado mais atenção. Para explicá-lo com a intensidade de India Song, não vejo outro meio senão ser voz, senão amar.

Para justificar em termos gerais o seu desejo pela escrita, ele procurava inverter a explicação feita certa vez por García Márquez, ao dizer que escrevia para que o amassem. Porque exatamente ao contrário, para ele, a escrita, e tudo aquilo que possa ser considerado arte, era entregar-se em uma via de mão única. Escrevia para simplesmente amar, com tudo que pudesse advir daí.
E ele sabe, como sabia, que o amor incondicional é uma exposição vã. Situação em que não há e não pode haver en garde.
Há coisas que o sustentam, vivas e mortas em seus significados pulsantes. Há coisas que o farão continuar sem defesas, uma vez após outra, com corpo e cicatriz, com corpo de cicatriz, fortalecido após o último e antes do próximo touché.


Um comentário:

Emmanuelle Kant disse...

O vice-cônsul é um personagem importante dentro da obra dela (em cinema e literatura), gravei uma entrevista da Duras que passou de madrugada na TV Senado, ela fala sobre o vice-cônsul, parece que voltou muitas vezes a esse personagem ao longo da vida, ele não está só em India Song.
Aliás, é o Le Vice-Consul que eu tava olhando na Estante Virtual aquele dia. É meio rarinho, só se acha em sebo mesmo.