sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

abismo



Corpo pode ser abismo?
Hoje fui ao shopping, templo asséptico e alabastrino do desejo, comprar um tênis razoável para correr. Já vou entrando de verdade na casa dos vinte, né, daqui a pouco é trinta, preciso começar a cuidar do corpitcho. E correr é uma boa opção para quem se sente desconfortável em academias.
Entrei na primeira loja que vi, que exibia uma faixa vermelha imensa escrito "liquidação". O sujeito que veio me atender tinha um vezo que me irrita bastante, o seja-bem-vindo-brother-qualseunome.
"Oi. Quero um tênis bom de corrida com preço entre 100 e 150 reais."
"O tênis é pra você? Qual o seu nome?"
"É. Pedro."
"Prazer, me chamo Alex! Ih, Pode ser um pouquinho acima disso, cara?"
"Sim, até 160." Sorri sem mostrar os dentes e arqueei as sobrancelhas, minha cara de simpatia impessoal.
"249?"
"Não."
"Ok, vou ali na outra loja pegar um Mizuno muito bom de 149, fica aí à vontade olhando os modelos."
"Ok."
"Qual o seu nome mesmo?"
"Pedro."
Trinta segundos depois ele volta:
"Pedro? Qual o tamanho?"
"41."
Esperei uns 10 minutos e nada. A outra loja ficava a uns metros dali, no primeiro piso. Eu estava no segundo. Pensei que ele realmente estivesse se esforçando para procurar o tênis, mas resolvi simplesmente ir embora.
Antes de continuar procurando em outras lojas, fiquei com vontade de tomar um chá mate gelado. Sempre sento numa mesa defronte ao Rei do Mate e tomo um mate gelado com limão ou leite. Pela primeira vez pedi um com maracujá.
Depois fui andando até a livraria pescoçar livros e dvds. Já gastei deveras fazendo isso.
Foi aí que tive uma pequena epifania: o som ambiente tocava Sentimental, do Los Hermanos, enquanto eu folheava o Livro das Perguntas, do Neruda. Eu não lembrava de música ambiente ali. Por alguma razão, fiquei prestando atenção na letra e cantando junto mentalmente enquanto lia as perguntas.
De tanto eu te falar, você subverteu o que era um sentimento e assim
Fez dele razão
Pra se perder no abismo que é pensar e sentir...
Ao mesmo tempo em que era grafado no meu pensamento: Para quién arden los pistilos del sol en sombra del eclipse?
Aí percebi que até aquele momento do dia eu não tinha falado com ninguém realmente, assim, só com a vendedora do mate e com Alex. Acabei comprando o livro, né, que nem tava caro, pocket book.
Saí dali e fui caminhando lívido sobre o abismo, cheio de perguntas.

p.s.: No caminho, pensei que a trilha sonora perfeita para andar em shopping é Michelangelo Antonioni, do Caetano. [http://www.youtube.com/watch?v=T6TpPx8J-Y8]





3 comentários:

Madame Natasha disse...

nham, nada contra os templos assépticos do desejo, mesmo.
Me gusta até.
Ah, v., queria ver você fazendo glúteoan na academian.
Te empresto (roger).
Aliás, (roger) me fez comprar um Asics de exatos 249 reais, ia comprar com o vendedor bróder amigo dele, na loja que ele me indicou, fui um dia lá, experimentei 500 tênis na brodage, mas no dia em que fui comprar ele não tava, acabei comprando com uma mulher.
Tava lendo aqui e te achando tããão antipático, aí lembrei que provavelmente sou 3 vezes mais \o/, beijos.
Eu odeio vendedora, fato.
Prefiro mil vezes vendedor, bróder ou não.
E sempre como pão-de-batata com suco-de-abacaxi-com-leite no Rei do Mate.
Eles até já sabem, "pequeno com açúcar?" ;)

Bruna O. disse...

E assim ficou sem tênis pra correr? Tsc, tsc. Mas entendo você, esperar vendedor é irritante. Eu não gosto de vendedor(a) intrometido(a), que fica pedindo pra ver como ficou a roupa, falando que é lindo, que tá bombando nas passarelas lá fora... Uma vez um vendedor em BH me chamou de egoísta porque eu não mostrei o vestudo que tava provando pra ele, oi.
Preciso comprar outro tênis de corrida, não gosto de ficar sem correr, me sinto tristuxa...

We're all unlucky in love sometimes. When I am, I go jogging. The body loses water when you jog, so you have none left for tears.

::Soda Cáustica:: disse...

qdo vou no shopping sempre lembro do filme "Corra Lola corra". Não sei pq.