quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

the nice young revolutionaries on wheeler road



"Muitas pessoas estão no vazio delas, mas é preciso coragem para ver o desespero".
Hoje vi Revolutionary Road. Sem esperar nada, como tem que ser. Não é um desespero, ahn, bergmaniano. São pessoas que têm coragem para perceber o vazio e o desespero... ao menos no início. Um desespero eloqüente. Sam Mendes é eloqüente, eu acho.
É uma boa história, com atores. Me identifiquei. Pensei que pra suportar aquilo, hoje em dia, só com doses cavalares de comprimidos. Espero que não. E sobre isso tenho que esperar. É incrível como alguém sempre tem que evocar psiquiatras, porta-vozes de Simão Bacamarte. No filme, essa figura aparece claramente como limite entre a realidade e a interdição, a desqualificação de um discurso.
"Acho que está na hora de encontrar alguém para ajudar a trazer algum sentido na sua vida". Por que não uma cidade? Paris!
Até a mais famosa das orelhas teve de suportá-los... Charcot, Gachet. Vejo sentido na mutilação, vejo sentido nas mutilações.
"Ela parece muito durona e adequada, como o inferno".
Lembrei de uma cena, de um filme que não é exatamente uma história, que às vezes queda suspensa em pura fotografia em movimento com sons - por que não um quadro? -, algo de verdadeiramente arte. De um diálogo que não é exatamente um diálogo, porque a moça reproduz num gravador um solilóquio. Um impressionismo mordaz.

Da sala, vinham diálogos de um filme que passava na televisão. "Se fosse você, não faria isso!". Depois dessa frase, ouviu-se o latido de um cão. Longo, sincero, perfeito na sua parábola... que se perdia no ar, como numa grande dor.
Depois, achei ter ouvido um avião... mas o que veio foi o silêncio. Eu estava muito feliz. O parque é cheio de silêncio feito de ruídos. Se encostar o ouvido no tronco de uma árvore e permanecer... ouvirá um ruído.
Talvez venha de nós, mas prefiro pensar que vem da árvore. No silêncio, batidas estranhas atrapalhavam a paisagem sonora ao meu redor. Eu não queria dizer.
Fechei a janela mas não parou. Achei que enlouqueceria.
Não quero ouvir sons inúteis. Quero poder escolhê-los durante a jornada. As vozes, as palavras: quantas palavras não queria ouvir... mas não posso evitar. É preciso suportar, como as ondas do mar suportam quando você deita para boiar.
Quando você deita para boiar: certamente no italiano a metáfora é mais excitante, porque a Monica Vitti diz, no lugar de boiar, a fare il morto. Uma interessante expressão.

Quanto a mim, talvez me mutile um dia, já me mutilei algumas vezes.
A não ser que

Um comentário:

Bruna O. disse...

Gosto tanto do Hopper... Sempre encontro ele em filmes, uma relação direta como em Muriel ou indireta, como em In The Mood For Love.
O filme do post ainda não vi, me incomodou um pouco no trailler o fato de Leonardo continuar com cara de 18 anos enquanto a Kate parece mais coerente no papel de mulher casada.
Mas, enfim, como dizem, we'll always have Paris. Seja lá sua Paris onde ou o que for.